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História - Fazenda Babilônia - Goiás - Brasil

História

Em fins do Século XVIII, mais precisamente em 1795, chega a Meia Ponte o senhor Joaquim Alves de Oliveira. Homem culto, nascido em 1770, em Pilar de Goiás, educou-se junto aos padres jesuítas em São Paulo e desde moço mostrou excelentes dotes para o comércio, fazendo fortuna no Rio de Janeiro. Ao voltar para Goiás, vislumbrou progresso no até então fervilhante arraial de Meia Ponte, que vinha sofrendo franca decadência de suas minas do ouro.

Com a decadência das minas de ouro de Meia Ponte, o senhor Joaquim Alves de Oliveira iniciou a ousada empreita de construir o Engenho São Joaquim, primeiro nome da Fazenda Babilônia, que segundo Pohl, em "Viagem ao Interior do Brasil", era um dos maiores engenhos de açúcar do Brasil. Após o ano de 1800 o Engenho São Joaquim já era considerado como a maior empresa agrícola do Estado de Goiás. Na fazenda, além da cana de açúcar, plantava-se em escala industrial mandioca e algodão para a produção da farinha e fios de algodão para exportação. A Inglaterra, em plena Revolução Industrial comprava toda a produção de algodão goiano, cuja fibra era considerada uma das melhores do mundo. A produção desta fazenda era tão intensa que contava com cerca de 200 escravos, sendo 120 homens para o trabalho e 80 mulheres e crianças.

Um dos relatos mais significantes foi o do viajante francês August Saint-Hilaire ( veja em Arquivo). Neste relato vale destacar entre tantas informações relevantes a importância do Comendador Joaquim Alves para Goiás e Centro-Oeste, a ordem e o asseio da fazenda, as relações com os escravos, a produtividade e o comércio de bens, em especial o algodão para exportação. Saint-Hilaire ainda descreve com maestria a estrutura da fazenda, a maquina de ralar mandioca movida a água e a organização das senzalas e oficinas. Importante registrar aqui que na Fazenda Babilônia estiveram hospedados pessoas ilustres de referência para Goiás, como o próprio Saint-Hilaire, Pohl, Castelnau, D´alincourt, Cunha Mattos e outros.

Devido ao seu grau de empreendedorismo o Comendador pode ser comparado ao Barão de Mauá. Sua renda era muitas vezes superior à renda da província. Através da agricultura e do comércio conseguiu manter a então decadente Minas de Meia Ponte e transformá-la numa das principais cidades do estado. Por Meia Ponte passavam todas as "picadas de Goiás", ´pois era o centro comercial de toda a província de Goiás. Ainda Meia Ponte era a confluência das rotas comercias, recebendo e despachando tropas para Cuiabá, Salvador e Rio de Janeiro. A tropa do Comendador, de quase 300 muares, levava, além dos produtos da fazenda, como o algodão, açúcar e farinha de mandioca, produtos diversos produzidos por outros fazendeiros da região, como o próprio algodão, que o Comendador incentivava e ajudava na produção e no comércio, e trazendo destas viagens produtos essenciais, como o sal e ferros, e outros tantos que lhe eram lucrativos, como tecidos finos e armas. Em algumas ocasiões da partida de sua comitiva, que era capitaneada por seu genro o Sargento-mor Joaquim da Costa Teixeira, iam também, por conforto e segurança, aqueles que desejavam viajar para fora da província, tornando a comitiva uma empreitada solene, de longa duração e com muitos animais, carregamentos e muita gente. Para se ter idéia, gastava, em picadas pelo sertão, 3 meses de viagem para chegar a Salvador ou Rio de Janeiro, e no mínimo mais 3 meses para voltar.

Apesar de não ser o foco de nosso assunto, não há como não deixar de fazer um breve relato sobre a imponente figura do Comendador, que tinha a patente de Tenente-Coronel Comandante Joaquim Alves de Oliveira. Comandante liberal, patriota e humanitário, comprou uma tipografia, a Typographia Oliveira, e editou o primeiro jornal do Centro Oeste, a "Matutina Meiapontense" que circulou de 1830 a 1835, montou a primeira biblioteca de Goiás e trouxe professor para a educação da população. Foi dele a iniciativa de promover a agricultura na província goiana, num momento de decadência da mineração em toda a capitania de Goiás. Além de tudo era homem sábio e justo cuja efígie não deixou gravada, ninguém sabe ao certo como era o rosto deste homem.

Voltando a história da Fazenda babilônia, nela estiveram hospedados pessoas ilustres de referência para Goiás, como o próprio Saint-Hilaire, Pohl, Castelnau, D´alincourt, Cunha Mattos e outros. Porém sua decadência iniciou-se mesmo antes da morte do Comendador, desiludido pela perda da esposa e filhos, e pela desonra da filha num episódio lastimável, pouco a pouco foi se desinteressando pelos negócios e, em 1851, com avançados 81 anos, fez sua passagem para o mundo espiritual. Como não deixou herdeiros, apesar de ter tido três filhos, legou o Engenho São Joaquim, por testamento, ao seu braço-direito, seu genro e Sargento-mor Joaquim da Costa Teixeira.

Das construções e opulência da época do Comendador, muito se perdeu. Sem a presença do Comendador, o comércio decaiu e a fazenda diminuiu sua produção. Até que, em 1864, Joaquim da Costa Teixeira vendeu-a para o Padre Simeão Estelita Lopes Zedes, bisavô da atual proprietária, Dona Telma Lopes Machado.

Padre Simeão comprou, em 1864, parte da Fazenda, e encontrando lá, nesta ocasião, uma grande quantidade de agregados e escravos, achou que aquilo mais se assemelhava à Babilônia e desde então passou a chamar de Fazenda Babilônia. Em 1876, adquiriu mais uma parte da extensa fazenda, e atravessou o fim do século XIX e início do século XX como uma fazenda produtora de gado de corte.

Meia Ponte não resistiu as transformações do fim do século XIX, a morte do Comendador, a abolição da escravatura e a proclamação da república, fizeram com que as rotas comerciais fossem deslocadas, perdendo a então próspera cidade o status de centro mercantil, vindo a invadir o século XX com a economia estagnada, baseada principalmente no gado de corte.

O tempo cumpriu seu papel e desfez a senzala e oficinas, muros e estábulos, sobrando, por determinação da família, o belo casarão, sede da fazenda, com a casa, capela, varanda e o pátio do antigo engenho abrigados por um vasto telhado de duas águas de grandes telhas de barro. Devido a histórica importância a casa e suas dependências foram tombadas em 1965, inscritas no Livro de Belas Artes, nº 480 de 26/04/1965.

Com a construção de Brasília e o incremento do turismo em Pirenópolis, a Fazenda Babilônia tornou, gradativamente, local de visitação. Por iniciativa da atual proprietária, D. Telma, que nutre um incansável amor à história e às coisas de terra, em 1997 a fazenda foi aberta à visitação.

Hoje, a fazenda, além de trabalhar com pecuária, mantém o belo casarão, que preserva ainda cerca de 80% de sua originalidade. O casarão de grossas madeiras expostas, a capela, um pequeno museu de objetos antigos, sua história e o fabuloso e nutritivo café colonial, fazem da Fazenda babilônia a mais representativa fazenda histórica de Goiás, sendo objeto de estudos para teses de graduação e mestrado, pesquisas na área de arqueologia e história, destino de grupos de estudantes de todos os níveis, do médio ao superior, nas áreas de arquitetura, história, cultura e gastronomia.